terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Je suis très désolé

Explosão Solar Pós-Apocalíptica: micro sóis para macro seres espiritualmente gélidos
Anthus da Geb
Acrílica sobre papel
297cm x 420cm
Julho de 2007

Marie, não sei se é bom ou ruim você arremessar no ventilador blogosférico meus descarregos filosóficos pós-implosões pessoais.
Minha cara, você melhor do que ninguém sabe exatamente, os motivos pelos quais me atiro em buracos negros existenciais. Você contou sobre parte desses motivos em seu último post...mergulharei em águas mais profundas no meu!
O que mais me enfurece nas pessoas? A covardia, a colossal falta de paixão e a acídia. Estes são os grandes males do homem atual, são as pás com que a maioria dos serezinhos humanos vem cavando suas próprias covas espirituais.
Todo santo dia me deparo com isso. Há dias, que logro não abalar-me com esses males humanos e há dias que minha blindagem emocional falha, entro num estado misto de depressão e rancor.
Não importa o tipo de tema, se profissional, familiar, amoroso infelizmente, as pessoas tem tratado tudo com um tremendo pouco caso. É como se nada mais valesse a pena.
Há algo mais desolador que ter que encarar o mesmo quadro ignóbil todos os dias?
E como reclamam! Tudo é difícil, tudo é um sacrifício. Talvez tudo seja mesmo uma imensa...droga, nada fácil de suportar, mas onde é que cada um enfiou a sua fé, sua obstinação?
Pra ser sincera, até imagino onde meteram tudo que lhes falta para viver com entusiasmo, entretanto não faltarei com a elegância neste espaço, omitirei sobre o destino vil que algumas pessoas têm dado para sua fé, obstinação, paixão coragem e garra.
Por que tanto medo em se entregar à busca do novo ou daquelas velhas experiências que dão prazer à alma e ao corpo? O que há? O que passa? Isso me irrita, me adoece sentimentalmente.
Estoy podrida de todo eso!
Pensando e repensando, acredito que a acídia é a matriz geradora dos outros males. Ela não é apenas um vício capital. Não quero entrar em discussões teológicas mesmo porque, penso que nos basta tudo que foi dito por Tomás de Aquino, e quem sou eu para discutir sobre as conclusões de um Santo? Apenas acredito que a acídia é a completa falta de amor próprio, a esperança que os pobres coitados, auto-acorrentado em inércia, têm de que o mundo irá parar de girar e então, tudo se tornará tão podre quanto eles.
Apesar de me aborrecer, recuso-me a engolir essa realidade. Não me serve e não compactuarei com idéias de pobreza de ação e espírito.
Missões, nós artistas temos muitas, a mais árdua consiste em despertar os indivíduos para um viver intenso, comprometido, apaixonado e entusiasmado.
O segredo das belas existências está na capacidade de sublimar poéticas íntimas. Quando são elevadas, transcendem. Lindo, não é mesmo? É melhor que a brisa aromática de um jardim na primavera, no entanto, nada disso combina com leseira.
Se você é um palerma, continue em sua cabaninha enterrada na neve, mas saiba que impotência existencial tem cura, basta você querer ser curado.
Não adianta nada que a Arte tenha um antídoto contra estagnação se os estagnados se recusam a tomá-lo.


Ao som de “Socorro” de Arnaldo Antunes

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Que a bestialidade seja efêmera



“As pessoas preferem a simplicidade das aparências à complexidade das essências” (da Geb, dezembro/2008)

Em certos momentos, da Geb, no auge de seus tormentos pessoais, em meio a miríade de blasfêmias que profere, mergulhada em romântica cólera, ainda consegue filosofar.
Essa é uma das vantagens de tornar-se parte do mobiliário da vida de alguém. A pessoa flui sem inibições, diz o que dificilmente diria na “feira das vaidades” de sua vida social.
Sou grata por ter o prazer de assistir de camarote as crises dolorosamente vividas por da Geb. Particularmente, aprecio quando ela entra em crise, pois sei que algo de bom, muito bom virá logo após a tormenta. Ela se auto-detona para em seguida reconstruir-se com os restos da demolição e com novos materiais. Retorna à existência remasterizada, como ela mesma diz, e com camada de cor extra.
Essa frase, dita por da Geb, explica muito sobre as virtudes e defeitos dos homens.
É mais simples ser falso. Talvez, a superficialidade seja o principal defeito dos politicamente corretos. Complexidade das essências pede autenticidade e quantos de nós possue coragem, dignidade e inteligência para ser autêntico? Pouquíssimos, a maioria prefere a comodidade bestial de uma existência plagiada.
Assim caminha a humanidade, rumo a fakelização.
Ser autêntico é crime, uma ofensa aos pobres de espírito e desprovidos de criatividade.
Temo pelo futuro das essências complexas. Vivemos a era da mediocridade, da falta de bom senso e carência de vontade. Não vejo sinais que apontem para o fim desta era.
Entretanto, há que perseverar, pois ainda existem alguns poucos exemplares de seres humanos detentores de essências apaixonadas e complexas e há também, alguns poucos que apreciam esses seres complexos. Talvez a salvação esteja na valente resistência desses pequenos grupos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Picasso, Galliano, da Geb e Madame de Borchgrave: quando arte e moda confluem para poéticas replay (Parte I)

Picasso pintou alguns arlequins durante seu percurso como pintor.
Onde nasce esta “queda” por arlequins? Acredito que tudo começou depois de seu envolvimento com o mundo do espetáculo (Ballet Russo, Diaghilev...). Desse “caldo teatral” surgiu o flerte com a commedia dell’arte, que acabou originando as centelhas inspiratórias que criaram os seus arlequins.

“Pablo vestido de Arlequim”
Pablo Picasso
1924
Óleo sobre tela
Dimensão: 130cm x 975cm
Acervo do Museu Picasso em Paris (França)


Imaginaria Picasso que, no futuro, seus arlequins inspirariam um desfile de alta-costura em Paris?
Em 2007, outro espanhol, Juan Carlos Antonio Galliano, mais popularmente conhecido como John Galliano, no 60º aniversário da criação da Maison Christian Dior apresentou um luxuoso desfile de vestidos inspirados em seus pintores preferidos e suas obras. Picasso foi um dos eleitos e seus arlequins foram as obras escolhidas por Galliano para inspirar um de seus modelos.


Modelo criado por John Galliano para desfile comemorativo da Maison Dior

No mesmo ano de 2007, da Geb, inspirada por Galliano e seu modelito Picasso-para-vestir, pinta um close-up do arlequim de Galliano.


Arlequim
Anthus da Geb
2007
Pastel sobre papel Kraft
Dimensões: 297cm x 420cm
Coleção Particular

Eis o ciclo sagrado: da arte para moda, da moda para arte.
A poética se repete, porém com novas roupagens dando passagem a novas releituras. Tais reflexões nos permitem parafrasear Lavoisier, afirmando que em arte ou em moda nada se cria tudo se transforma. A paráfrase é pretenciosa? Talvez, no entanto, abre-nos a cortina que separa conversas frugais sobre as Artes humanas das discussões espirituais sobre as contribuições sensoriais das Artes nas vidas humanas.
Descortinada a natureza íntima das sensações, fruto de estímulos artísticos, se torna óbvia a poesia existente na arte em papel de Madame Borchgrave.


Reprodução em papel de vestido de época
Isabelle de Borchgrave


Isabelle de Borchgrave, por meio do “trompe l’oeil”, trouxe para uma efêmera realidade celulósica a vestimenta da Infanta Margarida. Parte de “Las Meninas” de Velázquez deixa de ser imagem ilusória e ganha vida, corporificando uma poética em papel, uma poética repetida e ainda sim, transformada.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Klimtimizado à la Toulouse-Lautrec

Muito pensei sobre começar minha história nesse espaço virtual.
O que devo dizer? Como devo dizer? Será que tantas dúvidas realmente importam? Creio que não...
A verdade, é que ultimamente, não acho graça no mundo. Tudo anda em branco e preto, sem sal, sem açúcar. O mundo tem estado apático, assim o vejo, assim o sinto.
Eis que numa dessas noites de verão africano, estando eu em São Paulo, Klimt se apoderou de meus transpirados pensamentos.
Lembrei-me de suas ruivas, a “Senhora de chapéu e boá de plumas”.
Ela, com seus olhos semicerrados, carregados de nostalgia, desconfiança e cansaço traduzem todo meu enfado.
Nada de ouro, nada de prata, nada de ornamentos, nenhum exagero típico de Klimt, nada, nada, nada, absolutamente nada do Klimt vienense...do Klimt da Jugendstil.
O Klimt francês é o que traduzia meu momento, o Klimt expressivo, bem Toulouse-Lautrec. O decorativo não existe, apenas pinceladas grossas e visíveis ...e uma paleta sombria.
Apesar de tudo, esta tela me retirou da inércia em que me encontrava.
O cavaleiro dourado, ao fundo, me fez lembrar que a vida ainda é uma batalha e que melhores dias virão.
Devo sair a campo e batalhar por dias mais...dourados e menos...negros.
Imagem: Lady with Hat and Feather Boa
( Dame mit Hut und Federboa)
1909
Óleo sobre tela
69x55cm
Österreichische Museum für Angewandte Kunst
Viena (Aústria)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Enquanto Marie não vem...



Cadê Marie Théresè, minha amiga-escritora-blogueira? Querida, não permitirei que você transforme este blog no “Blog de meia dúzia de posts e só”! The show must go on, my Darling! E aqui vou eu (quebrando as regras entre Marie e Eu)!
Eis que embarcamos em 2009: E quem sabe onde vai dar este ano, ou no que vai dar? Atualmente, nem o comandante da nau dos loucos, Deus.
A única certeza é a numérica: 2+0+0+9 = 11 que, no frigir dos ovos, 1+1 = 2...2009 valerá por dois! Tudo dobrado. Será que veremos tudo dobrado sem ajuda de álcool? Na dúvida, pergunte ao oráculo: http://www.google.com/!
Ano Novo passou, que venha o Carnaval. Espero sinceramente, que algumas máscaras caiam antes de sua alegre chegada em fevereiro!
Querem uma imagem artisticamente carnavalesca? Lhes apresento “O Carnaval de Arlequim” , do españolito Joan Miró.


O Carnaval de Arlequim
1924-1925
Óleo sobre tela
66x93
Albright-Knox Arte Gallery, Buffalo (Estados Unidos)

O que vocês acham?
André Breton dizia que Miró era o mais surrealista de todos os surrealistas. Entretanto, nem tudo que leva a formação de uma pintura é surreal. Geralmente, as causas são bem reais!
A tela, “Carnaval de Arlequim”, foi inspirada nas alucinações causadas pela fome sentida por Miró. Fome de comida, meus caros e minhas caras! Existe algo mais degradante e humilhante, do que estar em Paris e não ter para comer nem as migalhas de um brioche que Maria Antonieta amassou? Que falta faz uma Gertrude Stein na vida dos bons e famintos artistas!
O próprio Miró relatou que quando voltava ao ateliê da rua Blomet à noite e deitava às vezes sem jantar, ele via coisas e as anotava no cadernos, via alucinações no teto.
É...a fome tem um efeito lisérgico impressionante. Se a moda pega, o tráfico cai em desgraça financeira! Ai, ai, é melhor eu deixar a sátira de lado antes que Miró decida assombrar-me durante o sono.
Esta tela encerra a fase das obras dominadas pela imaginação (será que encerra a fome somaliana em solo francês de Miró, também?).
Meninos e Meninas, não é uma obra fácil e exige de nós, bem nutridos observadores, meticulosa observação. A composição gira em torno de dois personagens centrais: um robô que toca viola e um arlequim com grandes bigodes e corpo de viola. A seu redor, uma multidão heterogênea de animais e objetos excêntricos se revela alheia à ação dos dois personagens. Uma cena de baile de carnaval.
Observem que sobre um plano quadriculado, o artista divide horizontalmente a tela ao meio, separando cromaticamente a parede do chão, e distribui as figuras de forma equilibrada. As paredes possuem manchas de umidade e pela janela se vêem o sol e a torre Eiffel, reflexos do exterior. Não é a pintura de um doido faminto, é a obra de um artista comprometido. Com a fome ele dormia, e dessa união noturna nasceu o carnaval.
Este era o mundo interior de Miró, um mundo musicalmente fantástico. Uma alucinação carnavalizada. A fome concedeu um banquete surreal aos nossos insaciáveis olhos.
Marie....cadê você? O próximo ato é seu!