quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Prosa telefônica Pré-Carnavalesca

Marie: Pronto!
Anthus: Hola! Que negócio é esse de “Pronto”? Tá querendo virar italiana?
Marie: E você? Como sempre espanholamente argentinizada!
Anthus: Nosso estrangeirismo dá uma graça gringa aos nossos dias, tão iguais em tempo, porém diferentes na forma.
Marie: O que você manda? Novidades?
Anthus: Assistiu ao telepiada? (É assim que Anthus designa os telejornais. Quando não é telepiada é teletragédia).
Marie: Não. Por que?
Anthus: Bom, pra começar a Venezuela é a primeira monarquia-republicana das Américas. O Chaveco (Hugo Chávez) venceu no plebiscito e irá poder concorrer ao trono quantas vezes der na venetita dele!
Marie: Vida longa ao Chaveco!
Anthus: Deus salve o Rei Chaveco!
Marie: Seremos os próximos?
Anthus: Sei não...Lula, o Rei do Brasil....não duvide do efeito dominó que provocará a Síndrome da Coroa nas Américas. Vá esperando por um plebiscitozinho por aqui também, viu?!
Marie: O que mais você ouviu?
Anthus: O Lula irá passar o carnaval no Rio de Janeiro. Desde 1994 que um presidente não passa o carnaval na Cidade Maravilhosa...o último você lembra quem foi?
Marie: Deixe-me ver...não...não lembro. Quem foi?
Anthus: Tu és bem brasileira mesmo, hein?! Cabeção de Pudim! No teu caso, você sendo descendente de franceses, a tua cabeça é de Crème Brulée!
Criatura, foi o Itamar Franco.
Marie: Aaaaa tá! Lembrei!
Anthus: Pois é! E quem ficará sem a calcinha ao lado do Lula?
Marie: [gargalhando] O telepiada lembrou da mulher sem calcinha ao lado do Itamar?
Anthus: Não, fui eu que lembrei.
Marie: Pode ficar sem calcinha...é só fazer algumas alianças políticas e colocar uma estrelinha no lugar estratégico.
Anthus: Venenosa! [mais risadas]
Marie: Mais alguma pérola do telepiada?
Anthus: Começou o julgamento do torturador do Khmer Vermelho.
Marie: Nossa! Só agora?
Anthus: Ué! Antes tarde do que nunca! Espero que alguma justiça seja feita afinal, o Khmer não foi nenhuma Quimera.
Marie: Vais pular Carnaval?
Anthus: Vivo no país do carnaval e deixando a brincadeira de lado, a fantasia que a maioria de nós brasileiros veste todos os dias é a de palhaço. No entanto, ao que tudo indica, vamos poder usar outra fantasia muito em breve, a de bufão, pois o circo republicano ganhará ares de Corte.
Haverá algum baile de máscaras naquele antipático castelo na Baviera Mineira?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A Rebus Lúdica de Vik Muniz

Série de auto-fornos fotografados por Hilla e Bernd Becher

Ontem passei algumas horas assistindo a documentários fotográficos. Em um dos documentários, o casal Hilla e Bernd Becher foi lembrado. Essa dupla se especializou em registrar paisagens industriais abandonadas. Falando assim, até parece algo um tanto idiota, não é mesmo? Mas não é tão simples assim o que eles fizeram e por isso, não é idiota! O que eles faziam era fotografar séries em preto e branco de instalações de fábricas, fornos enormes, silos e reservatórios de gás onde, eles simplesmente fechavam os olhos para a funcionalidade destas edificações, as extraiam do seu contexto original e as ordenavam em série, transformando-as em "construções", "estruturas", "objetos". A suposta objetividade das imagens captadas e a encenação criada pelos Becher fizeram dos dois verdadeiras estrelas da fotografia contemporânea.
Pois é, os Becher nos fizeram enxergar meras edificações industriais com outros olhos. Elas ganharam uma nova interpretação. Essa nova visão acompanhada desse novo entender, me fez lembrar da nova exposição que está em cartaz no MoMA.
A Arte pode ter um viés lúdico? Yes, e isso pode ser comprovado na nova edição da Artist’s Choice, pertencente a um dos projetos experimentais do MoMA de Nova York.
Antes de entrar na brincadeira, vale a pena saber o que é o Artist’s Choice. Nesse projeto um figurão das artes é convidado para se debruçar sobre o acervo do MoMA e escolher obras que contenham uma história específica.
A nona edição do projeto, sob a curadoria do fotógrafo e artista plástico brasileiro, Vik Muniz, traz a mostra Rebus (em exposição até 23 de fevereiro). Segundo Nô Mello, colunista da revista Vogue, a inspiração da exposição vem dos jogos de passatempo em que palavras fragmentadas originam outras palavras. Com base nessa idéia, Vik selecionou 80 obras e distribuiu todas em uma só parede.
É uma exposição e um jogo ao mesmo tempo, uma “mostra-instalação”. O objetivo desse jogo é criar uma narrativa por meio das associações feitas entre as obras, sejam de cor, escala ou textura.
Zeca Camargo, em seu blog, diz que para Vik Muniz, a palavra Rebus “evoca a associação livre de idéias, ou seja, uma coisa leva a outra não exatamente pelo som que o nome do que está sendo mostrado tem, mas pelo imaginário que o que ali está representado desperta”. Por ter lido este argumento dias atrás, acabei me lembrando da Rebu enquanto via a tipologia fotográfica construída pelo casal Becher...
Então, em um corredor em “U” de uma sala do MoMA, Vik agregou dezenas de objetos e obras de arte desde a tela Yellow (1951) da série Line From Color de Ellsworth Kelly, ícones pop como o cubo mágico (1974) do húngaro Ernö Rubik, as peças de lego de Building Bricks (1954-58), obra de Gotfried Kirk Christiansen, a gema de ovo de vidro, de Kiki Smith, um papel amassado, feito de metal, de Martin Creed, um trabalho de Rachel Whiteread, uma escultura de Giacometti, uma foto de Nan Goldin, um lápis de madeira, a Bronx Floors (1972-73), de Gordon Matta-Clark, um hambúrguer de plástico num pedestal, entre tantas outras obras e objetos até o próprio “Exit” que encerra a exposição. Um grande jogo, uma gostosa brincadeira que une numa mesma sequência trabalhos e objetos díspares.
Vik esclarece que “tudo depende da ordem em que se vê”. A meta buscada por Vik é despertar a percepção intuitiva de cada visitante. A preocupação com a busca de uma narrativa intuitiva é tanta que ViK nem sequer permitiu que colocassem ao lado dos trabalhos as tradicionais “plaquinhas de identificação” com nome data e materiais de que são feitos, a justificativa dada por Vik Muniz é que “a história da obra não tem a menor relevância aqui”.
Apesar da falta de relevância alegada por Vik, acredito que atitudes como essa não contribuem para a formação de um conhecimento artístico por parte do público. Perde-se uma grande oportunidade de promover os nomes daqueles que ampliam o território da Arte com suas criações. Do meu ponto de vista, a falha dessa mostra reside nesse fato. Não fosse por isso, ela estaria perfeita.
Rebus é uma mostra ativa, pulsante, nela o espectador é intimado a buscar novas interpretações para o que vê, ela permite descobrir coisas, sensações novas a partir de coisas já conhecidas e, é exatamente disso que se trata a Arte.
O cotidiano nos priva dessa amplitude de entendimento sobre o que nos certa. A "vida" do dia-a-dia é limitadíssima, asfixiante e, portanto, quando a Arte nos dá a oportunidade de saltar para fora de nossas limitações cotidianas, devemos aproveitar a oportunidade da melhor maneira possível e sem medo de descobrir novos significados naquelas coisas que estamos cansados de conhecer. Se você vai para uma exposição dessas, pronto para saltar, pronto para novas experiências, você sai dela renovado e preparado para retornar à asfixia cotidiana.

ViK Muniz já está com sua mostra individual “Reflex”, no MAM do Rio de Janeiro. Futuramente, antes da chegada da mostra em São Paulo, escrevei um post sobre seu trabalho.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O Complexo de Robinson Crusoe

Eis que fui ao teatro. Quando a programação televisiva, seja paga ou aberta, entra na dieta, ir ao teatro torna-se a salvação da diversão vespertino-noturna de meus domingos.
Muito mais que mera diversão, o teatro é uma experiência libertadora. Cinema é bom, mas teatro é tesão. É impossível ter a mesma sensação numa sala de cinema. Se você, caro(a) leitor(a), ainda não experimentou não sabe o que está perdendo!
Molière, mestre da Comédie Française, tinha o seguinte lema: “ridendo castigat mores” (rindo se corrigem os costumes). Acredito nesse lema, o humor é aliado da inteligência, e se for para aprender sobre lições morais prefiro que seja aos risos e não aos prantos.
Depois de revigorar-me mental e espiritualmente, regressando para minha humilde cabana urbana, comecei a refletir sobre seriados de televisão.
Passei a tecer pensamentos analíticos sobre duas séries: “Gilligan’s Island” (A Ilha dos Birutas) de 1964 e “Lost” (por que não traduziram para o português? “Perdidos” não ficaria bem, não cairia nas graças do povo?) de 2004.
Adoraria entender as razões pelas quais o tema, náufragos perdidos em ilha do pacífico, fascina tanto os roteiristas. Em um intervalo de quatro décadas não houve idéia melhor para um enredo? Quanto mistério! E quanta pobreza criativa!
Entre as duas fico com A Ilha dos Birutas. Comédias me atraem mais que drama e, apesar de toda atmosfera “tosca” que envolve a série, eu a considero um entretenimento superior ao da série Lost.
Ora, Lost é tão improvável, algo como um surto televisivo. Quarenta e oito náufragos lutam para sobreviver e conviver juntos em uma ilha, e para completar todos estão condenados a fazer retrospectivas pessoais sem ajuda profissional e alopática, no caso um psicólogo e Lexotan aos baldes. Todos querem sair da ilha e ao mesmo tempo parecem desejar escapar de suas próprias histórias pessoais. Desejam voltar à civilização e viver outra vida. Sinto que ninguém dali está satisfeito com a própria existência. Bom, e quem não tem seus dramas pessoais? Será que isso pode ser considerado forma de entretenimento?
Na Ilha dos Birutas todos ansiavam voltar para antiga rotina, cada náufrago parecia satisfeito com a vida que tinha antes de se perderem. Ninguém fica surtando enquanto se atormenta com o passado, o foco da atenção é encontrar um modo de escapar daquela situação, e no caso da Ilha dos Birutas eles se metem em encrencas animadíssimas e, além disso, se divertem muito enquanto estão na ilha. Isso é entretenimento sadio! Você passa alguns minutos de seu tempo assistindo algo que lhe diverte e que te faz esquecer, por certo tempo, as agruras de nossas vidas reais.
O fato é que passaram-se quarenta anos e os roteiristas continuam com o Complexo de Robinson Crusoe. Isso dói, é lastimável.
Alguém já reparou no estilo de moda ditado pela série Lost? É de matar, esse é de amargar e o pior é que pegou! Calça ou bermuda ridícula, camiseta imbecil, sapatos detestáveis e mochila inútil nas costas e, para completar o look, acompanha um make up ensebado. Não, não dá para aguentar! É horrível andar pelas ruas e dar de cara a todo instante com gente vestindo o modelito completo de Lost (não esquecer da maldita garrafinha d’água a tiracolo). Só falta a pistola sinalizadora!
A que ponto chegamos! Realmente, estamos perdidos!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Tijolos e Estilingues

Tudo vai muito mal, mas vamos lá!
Mais uma semana se foi e pouco produzi. Ando tentando loucamente dar o primeiro passo para concretizar algo novo.
Está difícil sair do campo das idéias e montar na biga da ação. O tempo está passando, eu não estou revolucionando e tudo isso está me incomodando.
A Arte pede posturas revolucionárias, em uma de minhas mãos levo um tijolo, em meu bolso um estilingue e estou prostrada diante de uma vidraça velha que pede para ser estilhaçada. Tenho artilharia, tenho motivos para me rebelar...preciso eu de um estopim para agir?
O que há comigo? O que está acontecendo, droga? Não suporto essa situação!
Nelson Leirner disse que ele não precisa dizer nada, ele está esperando ouvir algo de nós, jovens artistas, a bola está conosco e....e o que faremos com ela? Leirner ainda disse que perdemos muito tempo lendo, gastamos horas e horas com leitura, quando deveríamos agilizar nossas leituras e gastar mais tempo produzindo novas coisas. Não tiro a razão de Leirner...ele está corretíssimo!
Eu me sinto como em um pesadelo, daqueles hiper surreais.
Ações podem mudar situações. Estamos estagnados e não podemos seguir assim.
Em vigília tudo é pesadelo e quando me entrego a Orfeu simplesmente, esqueço de sonhar.
É vergonhoso continuar como estou. Eu preciso quebrar a vidraça.