terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O Complexo de Robinson Crusoe

Eis que fui ao teatro. Quando a programação televisiva, seja paga ou aberta, entra na dieta, ir ao teatro torna-se a salvação da diversão vespertino-noturna de meus domingos.
Muito mais que mera diversão, o teatro é uma experiência libertadora. Cinema é bom, mas teatro é tesão. É impossível ter a mesma sensação numa sala de cinema. Se você, caro(a) leitor(a), ainda não experimentou não sabe o que está perdendo!
Molière, mestre da Comédie Française, tinha o seguinte lema: “ridendo castigat mores” (rindo se corrigem os costumes). Acredito nesse lema, o humor é aliado da inteligência, e se for para aprender sobre lições morais prefiro que seja aos risos e não aos prantos.
Depois de revigorar-me mental e espiritualmente, regressando para minha humilde cabana urbana, comecei a refletir sobre seriados de televisão.
Passei a tecer pensamentos analíticos sobre duas séries: “Gilligan’s Island” (A Ilha dos Birutas) de 1964 e “Lost” (por que não traduziram para o português? “Perdidos” não ficaria bem, não cairia nas graças do povo?) de 2004.
Adoraria entender as razões pelas quais o tema, náufragos perdidos em ilha do pacífico, fascina tanto os roteiristas. Em um intervalo de quatro décadas não houve idéia melhor para um enredo? Quanto mistério! E quanta pobreza criativa!
Entre as duas fico com A Ilha dos Birutas. Comédias me atraem mais que drama e, apesar de toda atmosfera “tosca” que envolve a série, eu a considero um entretenimento superior ao da série Lost.
Ora, Lost é tão improvável, algo como um surto televisivo. Quarenta e oito náufragos lutam para sobreviver e conviver juntos em uma ilha, e para completar todos estão condenados a fazer retrospectivas pessoais sem ajuda profissional e alopática, no caso um psicólogo e Lexotan aos baldes. Todos querem sair da ilha e ao mesmo tempo parecem desejar escapar de suas próprias histórias pessoais. Desejam voltar à civilização e viver outra vida. Sinto que ninguém dali está satisfeito com a própria existência. Bom, e quem não tem seus dramas pessoais? Será que isso pode ser considerado forma de entretenimento?
Na Ilha dos Birutas todos ansiavam voltar para antiga rotina, cada náufrago parecia satisfeito com a vida que tinha antes de se perderem. Ninguém fica surtando enquanto se atormenta com o passado, o foco da atenção é encontrar um modo de escapar daquela situação, e no caso da Ilha dos Birutas eles se metem em encrencas animadíssimas e, além disso, se divertem muito enquanto estão na ilha. Isso é entretenimento sadio! Você passa alguns minutos de seu tempo assistindo algo que lhe diverte e que te faz esquecer, por certo tempo, as agruras de nossas vidas reais.
O fato é que passaram-se quarenta anos e os roteiristas continuam com o Complexo de Robinson Crusoe. Isso dói, é lastimável.
Alguém já reparou no estilo de moda ditado pela série Lost? É de matar, esse é de amargar e o pior é que pegou! Calça ou bermuda ridícula, camiseta imbecil, sapatos detestáveis e mochila inútil nas costas e, para completar o look, acompanha um make up ensebado. Não, não dá para aguentar! É horrível andar pelas ruas e dar de cara a todo instante com gente vestindo o modelito completo de Lost (não esquecer da maldita garrafinha d’água a tiracolo). Só falta a pistola sinalizadora!
A que ponto chegamos! Realmente, estamos perdidos!

3 comentários:

  1. Obrigado pela visita ao meu blog, moça.

    Que este espaço aqui também continue. O importante, independentemente de apreciações estéticas e/ou outras, é escrever.

    Expresse suas ideias!


    Elienai
    Abraços.

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  2. Querida amiga,yo soy de las tuyas donde se ponga el teatro, que se quite el cine,o la television.A mi me gusta poco la television, con los años me he vuelto mas selectiva a la hora de ver programas,películas etc y la verdad es que no ponen casi nada que me agrade.
    Hasta pronto,
    un beso.

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