domingo, 26 de julho de 2009

O ar de minha graça artística

Depois de tanto tempo...depois de tanta água que rolou...muitas coisas aconteceram e seguirão acontecendo.
Coroemos esse retorno a esse recanto límbico com algumas fotos de meu último ensaio fotográfico.
Com vocês, 'Worms Just Wanna Have Fun'








Gostaram?
A versão integral desse ensaio vocês encontram em meu Flick: http://www.flickr.com/photos/anthus_da_geb

quarta-feira, 6 de maio de 2009

É hora de voltar

Chega de moleza!
Post de regresso é sempre bom, não é mesmo meus leitores?
Pois é, o afastamento foi necessário, bastante benéfico e instrutivo. Agora devo compartilhar com vocês um pouco do aprendizado!
Esse post é mais para dar um 'olá' e dizer que estão acontecendo zilhões de coisas fora do limbo principalmente, no universo artístico e cultural paulistano.
O que aconteceu mais recente???
A tal da Virada Cultural.
Já falei muito mal da Virada por aí, sentei a lenha sem dó e sem piedade, mas era necessário afinal, a Virada merece ser "caceteada". Nunca fui e nem preciso ir para saber que algo nele cheira muito mal, é um evento com um aroma peculiar, uma mistura de maconha com uréia que me dá nojo.
Do lado de quem deu o show havia algumas propostas interessantes, incluem-se as propostas francesas (bancaram parte do evento e contribuiu de forma satisfatória na parte artística). Do lado dos organizadores...isso inclui o governo, não é? Deixa a organização pra lá. Por parte de quem assistiu, gostaria de saber o número exato de pessoas que realmente, puderam assimilar algo de bom de tudo o que houve, quantas enriqueceram culturalmente? Creio que menos que 1%.
Eu sou contra eventos como a Virada Cultural. Radicalmente contra. Grande parte da população brasileira não está preparada para este tipo de evento. Ela não tem educação, não entende nada de Arte e vai para este tipo de "encontro" com o intuito de extravasar toda sua selvageria (urinar, defecar e vomitar em vias públicas, manter relações sexuais em público, assaltar, fazer tráfico e uso de entorpecentes, embriagar-se, zurrar como feras.....para resumir, uma série de atos próprios das bestas).
Se a intenção é empregar o dinheiro público em cultura, existem outras formas. A Virada Cultural não serve nem como exemplo de Panis et Circensis. A Virada é dois dias e o Panis et Circenses dos Césares era de 185 dias e contava com a presença do Imperador. Para pão e circo a Virada é muito fraca.
É muito bom saber que já passou.
O calendário cultural segue e reservarei alguns dos próximos posts para comentar os eventos mais interessantes, na minha honesta opinião, é claro.

Vida longa a este Blog!

domingo, 19 de abril de 2009

Eu voltarei...

Não desisti disso aqui....só ando transmitindo em outra frequência...volto logo.

A nova frequência: http://www.flickr.com/photos/anthus_da_geb

segunda-feira, 30 de março de 2009

Nota Quaresmática Esclarecedora...mas pode ser um sinal de fumaça!

Este blog não está de férias e não foi abandonado!
Eu e Marie estamos guardando a quaresma.
Em Abril retornaremos com novidades.
Marie partirá para carreira solo e eu terei um blog só meu (finalmente, terei o poder absoluto sobre o Limbo!!!).
Querem saber quando volto? A data exata? Na semana da Páscoa.
Podem marcar em suas agendas!

Nos vemos na Sexta-feira da Paixão.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Prosa telefônica Pré-Carnavalesca

Marie: Pronto!
Anthus: Hola! Que negócio é esse de “Pronto”? Tá querendo virar italiana?
Marie: E você? Como sempre espanholamente argentinizada!
Anthus: Nosso estrangeirismo dá uma graça gringa aos nossos dias, tão iguais em tempo, porém diferentes na forma.
Marie: O que você manda? Novidades?
Anthus: Assistiu ao telepiada? (É assim que Anthus designa os telejornais. Quando não é telepiada é teletragédia).
Marie: Não. Por que?
Anthus: Bom, pra começar a Venezuela é a primeira monarquia-republicana das Américas. O Chaveco (Hugo Chávez) venceu no plebiscito e irá poder concorrer ao trono quantas vezes der na venetita dele!
Marie: Vida longa ao Chaveco!
Anthus: Deus salve o Rei Chaveco!
Marie: Seremos os próximos?
Anthus: Sei não...Lula, o Rei do Brasil....não duvide do efeito dominó que provocará a Síndrome da Coroa nas Américas. Vá esperando por um plebiscitozinho por aqui também, viu?!
Marie: O que mais você ouviu?
Anthus: O Lula irá passar o carnaval no Rio de Janeiro. Desde 1994 que um presidente não passa o carnaval na Cidade Maravilhosa...o último você lembra quem foi?
Marie: Deixe-me ver...não...não lembro. Quem foi?
Anthus: Tu és bem brasileira mesmo, hein?! Cabeção de Pudim! No teu caso, você sendo descendente de franceses, a tua cabeça é de Crème Brulée!
Criatura, foi o Itamar Franco.
Marie: Aaaaa tá! Lembrei!
Anthus: Pois é! E quem ficará sem a calcinha ao lado do Lula?
Marie: [gargalhando] O telepiada lembrou da mulher sem calcinha ao lado do Itamar?
Anthus: Não, fui eu que lembrei.
Marie: Pode ficar sem calcinha...é só fazer algumas alianças políticas e colocar uma estrelinha no lugar estratégico.
Anthus: Venenosa! [mais risadas]
Marie: Mais alguma pérola do telepiada?
Anthus: Começou o julgamento do torturador do Khmer Vermelho.
Marie: Nossa! Só agora?
Anthus: Ué! Antes tarde do que nunca! Espero que alguma justiça seja feita afinal, o Khmer não foi nenhuma Quimera.
Marie: Vais pular Carnaval?
Anthus: Vivo no país do carnaval e deixando a brincadeira de lado, a fantasia que a maioria de nós brasileiros veste todos os dias é a de palhaço. No entanto, ao que tudo indica, vamos poder usar outra fantasia muito em breve, a de bufão, pois o circo republicano ganhará ares de Corte.
Haverá algum baile de máscaras naquele antipático castelo na Baviera Mineira?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A Rebus Lúdica de Vik Muniz

Série de auto-fornos fotografados por Hilla e Bernd Becher

Ontem passei algumas horas assistindo a documentários fotográficos. Em um dos documentários, o casal Hilla e Bernd Becher foi lembrado. Essa dupla se especializou em registrar paisagens industriais abandonadas. Falando assim, até parece algo um tanto idiota, não é mesmo? Mas não é tão simples assim o que eles fizeram e por isso, não é idiota! O que eles faziam era fotografar séries em preto e branco de instalações de fábricas, fornos enormes, silos e reservatórios de gás onde, eles simplesmente fechavam os olhos para a funcionalidade destas edificações, as extraiam do seu contexto original e as ordenavam em série, transformando-as em "construções", "estruturas", "objetos". A suposta objetividade das imagens captadas e a encenação criada pelos Becher fizeram dos dois verdadeiras estrelas da fotografia contemporânea.
Pois é, os Becher nos fizeram enxergar meras edificações industriais com outros olhos. Elas ganharam uma nova interpretação. Essa nova visão acompanhada desse novo entender, me fez lembrar da nova exposição que está em cartaz no MoMA.
A Arte pode ter um viés lúdico? Yes, e isso pode ser comprovado na nova edição da Artist’s Choice, pertencente a um dos projetos experimentais do MoMA de Nova York.
Antes de entrar na brincadeira, vale a pena saber o que é o Artist’s Choice. Nesse projeto um figurão das artes é convidado para se debruçar sobre o acervo do MoMA e escolher obras que contenham uma história específica.
A nona edição do projeto, sob a curadoria do fotógrafo e artista plástico brasileiro, Vik Muniz, traz a mostra Rebus (em exposição até 23 de fevereiro). Segundo Nô Mello, colunista da revista Vogue, a inspiração da exposição vem dos jogos de passatempo em que palavras fragmentadas originam outras palavras. Com base nessa idéia, Vik selecionou 80 obras e distribuiu todas em uma só parede.
É uma exposição e um jogo ao mesmo tempo, uma “mostra-instalação”. O objetivo desse jogo é criar uma narrativa por meio das associações feitas entre as obras, sejam de cor, escala ou textura.
Zeca Camargo, em seu blog, diz que para Vik Muniz, a palavra Rebus “evoca a associação livre de idéias, ou seja, uma coisa leva a outra não exatamente pelo som que o nome do que está sendo mostrado tem, mas pelo imaginário que o que ali está representado desperta”. Por ter lido este argumento dias atrás, acabei me lembrando da Rebu enquanto via a tipologia fotográfica construída pelo casal Becher...
Então, em um corredor em “U” de uma sala do MoMA, Vik agregou dezenas de objetos e obras de arte desde a tela Yellow (1951) da série Line From Color de Ellsworth Kelly, ícones pop como o cubo mágico (1974) do húngaro Ernö Rubik, as peças de lego de Building Bricks (1954-58), obra de Gotfried Kirk Christiansen, a gema de ovo de vidro, de Kiki Smith, um papel amassado, feito de metal, de Martin Creed, um trabalho de Rachel Whiteread, uma escultura de Giacometti, uma foto de Nan Goldin, um lápis de madeira, a Bronx Floors (1972-73), de Gordon Matta-Clark, um hambúrguer de plástico num pedestal, entre tantas outras obras e objetos até o próprio “Exit” que encerra a exposição. Um grande jogo, uma gostosa brincadeira que une numa mesma sequência trabalhos e objetos díspares.
Vik esclarece que “tudo depende da ordem em que se vê”. A meta buscada por Vik é despertar a percepção intuitiva de cada visitante. A preocupação com a busca de uma narrativa intuitiva é tanta que ViK nem sequer permitiu que colocassem ao lado dos trabalhos as tradicionais “plaquinhas de identificação” com nome data e materiais de que são feitos, a justificativa dada por Vik Muniz é que “a história da obra não tem a menor relevância aqui”.
Apesar da falta de relevância alegada por Vik, acredito que atitudes como essa não contribuem para a formação de um conhecimento artístico por parte do público. Perde-se uma grande oportunidade de promover os nomes daqueles que ampliam o território da Arte com suas criações. Do meu ponto de vista, a falha dessa mostra reside nesse fato. Não fosse por isso, ela estaria perfeita.
Rebus é uma mostra ativa, pulsante, nela o espectador é intimado a buscar novas interpretações para o que vê, ela permite descobrir coisas, sensações novas a partir de coisas já conhecidas e, é exatamente disso que se trata a Arte.
O cotidiano nos priva dessa amplitude de entendimento sobre o que nos certa. A "vida" do dia-a-dia é limitadíssima, asfixiante e, portanto, quando a Arte nos dá a oportunidade de saltar para fora de nossas limitações cotidianas, devemos aproveitar a oportunidade da melhor maneira possível e sem medo de descobrir novos significados naquelas coisas que estamos cansados de conhecer. Se você vai para uma exposição dessas, pronto para saltar, pronto para novas experiências, você sai dela renovado e preparado para retornar à asfixia cotidiana.

ViK Muniz já está com sua mostra individual “Reflex”, no MAM do Rio de Janeiro. Futuramente, antes da chegada da mostra em São Paulo, escrevei um post sobre seu trabalho.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O Complexo de Robinson Crusoe

Eis que fui ao teatro. Quando a programação televisiva, seja paga ou aberta, entra na dieta, ir ao teatro torna-se a salvação da diversão vespertino-noturna de meus domingos.
Muito mais que mera diversão, o teatro é uma experiência libertadora. Cinema é bom, mas teatro é tesão. É impossível ter a mesma sensação numa sala de cinema. Se você, caro(a) leitor(a), ainda não experimentou não sabe o que está perdendo!
Molière, mestre da Comédie Française, tinha o seguinte lema: “ridendo castigat mores” (rindo se corrigem os costumes). Acredito nesse lema, o humor é aliado da inteligência, e se for para aprender sobre lições morais prefiro que seja aos risos e não aos prantos.
Depois de revigorar-me mental e espiritualmente, regressando para minha humilde cabana urbana, comecei a refletir sobre seriados de televisão.
Passei a tecer pensamentos analíticos sobre duas séries: “Gilligan’s Island” (A Ilha dos Birutas) de 1964 e “Lost” (por que não traduziram para o português? “Perdidos” não ficaria bem, não cairia nas graças do povo?) de 2004.
Adoraria entender as razões pelas quais o tema, náufragos perdidos em ilha do pacífico, fascina tanto os roteiristas. Em um intervalo de quatro décadas não houve idéia melhor para um enredo? Quanto mistério! E quanta pobreza criativa!
Entre as duas fico com A Ilha dos Birutas. Comédias me atraem mais que drama e, apesar de toda atmosfera “tosca” que envolve a série, eu a considero um entretenimento superior ao da série Lost.
Ora, Lost é tão improvável, algo como um surto televisivo. Quarenta e oito náufragos lutam para sobreviver e conviver juntos em uma ilha, e para completar todos estão condenados a fazer retrospectivas pessoais sem ajuda profissional e alopática, no caso um psicólogo e Lexotan aos baldes. Todos querem sair da ilha e ao mesmo tempo parecem desejar escapar de suas próprias histórias pessoais. Desejam voltar à civilização e viver outra vida. Sinto que ninguém dali está satisfeito com a própria existência. Bom, e quem não tem seus dramas pessoais? Será que isso pode ser considerado forma de entretenimento?
Na Ilha dos Birutas todos ansiavam voltar para antiga rotina, cada náufrago parecia satisfeito com a vida que tinha antes de se perderem. Ninguém fica surtando enquanto se atormenta com o passado, o foco da atenção é encontrar um modo de escapar daquela situação, e no caso da Ilha dos Birutas eles se metem em encrencas animadíssimas e, além disso, se divertem muito enquanto estão na ilha. Isso é entretenimento sadio! Você passa alguns minutos de seu tempo assistindo algo que lhe diverte e que te faz esquecer, por certo tempo, as agruras de nossas vidas reais.
O fato é que passaram-se quarenta anos e os roteiristas continuam com o Complexo de Robinson Crusoe. Isso dói, é lastimável.
Alguém já reparou no estilo de moda ditado pela série Lost? É de matar, esse é de amargar e o pior é que pegou! Calça ou bermuda ridícula, camiseta imbecil, sapatos detestáveis e mochila inútil nas costas e, para completar o look, acompanha um make up ensebado. Não, não dá para aguentar! É horrível andar pelas ruas e dar de cara a todo instante com gente vestindo o modelito completo de Lost (não esquecer da maldita garrafinha d’água a tiracolo). Só falta a pistola sinalizadora!
A que ponto chegamos! Realmente, estamos perdidos!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Tijolos e Estilingues

Tudo vai muito mal, mas vamos lá!
Mais uma semana se foi e pouco produzi. Ando tentando loucamente dar o primeiro passo para concretizar algo novo.
Está difícil sair do campo das idéias e montar na biga da ação. O tempo está passando, eu não estou revolucionando e tudo isso está me incomodando.
A Arte pede posturas revolucionárias, em uma de minhas mãos levo um tijolo, em meu bolso um estilingue e estou prostrada diante de uma vidraça velha que pede para ser estilhaçada. Tenho artilharia, tenho motivos para me rebelar...preciso eu de um estopim para agir?
O que há comigo? O que está acontecendo, droga? Não suporto essa situação!
Nelson Leirner disse que ele não precisa dizer nada, ele está esperando ouvir algo de nós, jovens artistas, a bola está conosco e....e o que faremos com ela? Leirner ainda disse que perdemos muito tempo lendo, gastamos horas e horas com leitura, quando deveríamos agilizar nossas leituras e gastar mais tempo produzindo novas coisas. Não tiro a razão de Leirner...ele está corretíssimo!
Eu me sinto como em um pesadelo, daqueles hiper surreais.
Ações podem mudar situações. Estamos estagnados e não podemos seguir assim.
Em vigília tudo é pesadelo e quando me entrego a Orfeu simplesmente, esqueço de sonhar.
É vergonhoso continuar como estou. Eu preciso quebrar a vidraça.


terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Je suis très désolé

Explosão Solar Pós-Apocalíptica: micro sóis para macro seres espiritualmente gélidos
Anthus da Geb
Acrílica sobre papel
297cm x 420cm
Julho de 2007

Marie, não sei se é bom ou ruim você arremessar no ventilador blogosférico meus descarregos filosóficos pós-implosões pessoais.
Minha cara, você melhor do que ninguém sabe exatamente, os motivos pelos quais me atiro em buracos negros existenciais. Você contou sobre parte desses motivos em seu último post...mergulharei em águas mais profundas no meu!
O que mais me enfurece nas pessoas? A covardia, a colossal falta de paixão e a acídia. Estes são os grandes males do homem atual, são as pás com que a maioria dos serezinhos humanos vem cavando suas próprias covas espirituais.
Todo santo dia me deparo com isso. Há dias, que logro não abalar-me com esses males humanos e há dias que minha blindagem emocional falha, entro num estado misto de depressão e rancor.
Não importa o tipo de tema, se profissional, familiar, amoroso infelizmente, as pessoas tem tratado tudo com um tremendo pouco caso. É como se nada mais valesse a pena.
Há algo mais desolador que ter que encarar o mesmo quadro ignóbil todos os dias?
E como reclamam! Tudo é difícil, tudo é um sacrifício. Talvez tudo seja mesmo uma imensa...droga, nada fácil de suportar, mas onde é que cada um enfiou a sua fé, sua obstinação?
Pra ser sincera, até imagino onde meteram tudo que lhes falta para viver com entusiasmo, entretanto não faltarei com a elegância neste espaço, omitirei sobre o destino vil que algumas pessoas têm dado para sua fé, obstinação, paixão coragem e garra.
Por que tanto medo em se entregar à busca do novo ou daquelas velhas experiências que dão prazer à alma e ao corpo? O que há? O que passa? Isso me irrita, me adoece sentimentalmente.
Estoy podrida de todo eso!
Pensando e repensando, acredito que a acídia é a matriz geradora dos outros males. Ela não é apenas um vício capital. Não quero entrar em discussões teológicas mesmo porque, penso que nos basta tudo que foi dito por Tomás de Aquino, e quem sou eu para discutir sobre as conclusões de um Santo? Apenas acredito que a acídia é a completa falta de amor próprio, a esperança que os pobres coitados, auto-acorrentado em inércia, têm de que o mundo irá parar de girar e então, tudo se tornará tão podre quanto eles.
Apesar de me aborrecer, recuso-me a engolir essa realidade. Não me serve e não compactuarei com idéias de pobreza de ação e espírito.
Missões, nós artistas temos muitas, a mais árdua consiste em despertar os indivíduos para um viver intenso, comprometido, apaixonado e entusiasmado.
O segredo das belas existências está na capacidade de sublimar poéticas íntimas. Quando são elevadas, transcendem. Lindo, não é mesmo? É melhor que a brisa aromática de um jardim na primavera, no entanto, nada disso combina com leseira.
Se você é um palerma, continue em sua cabaninha enterrada na neve, mas saiba que impotência existencial tem cura, basta você querer ser curado.
Não adianta nada que a Arte tenha um antídoto contra estagnação se os estagnados se recusam a tomá-lo.


Ao som de “Socorro” de Arnaldo Antunes

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Que a bestialidade seja efêmera



“As pessoas preferem a simplicidade das aparências à complexidade das essências” (da Geb, dezembro/2008)

Em certos momentos, da Geb, no auge de seus tormentos pessoais, em meio a miríade de blasfêmias que profere, mergulhada em romântica cólera, ainda consegue filosofar.
Essa é uma das vantagens de tornar-se parte do mobiliário da vida de alguém. A pessoa flui sem inibições, diz o que dificilmente diria na “feira das vaidades” de sua vida social.
Sou grata por ter o prazer de assistir de camarote as crises dolorosamente vividas por da Geb. Particularmente, aprecio quando ela entra em crise, pois sei que algo de bom, muito bom virá logo após a tormenta. Ela se auto-detona para em seguida reconstruir-se com os restos da demolição e com novos materiais. Retorna à existência remasterizada, como ela mesma diz, e com camada de cor extra.
Essa frase, dita por da Geb, explica muito sobre as virtudes e defeitos dos homens.
É mais simples ser falso. Talvez, a superficialidade seja o principal defeito dos politicamente corretos. Complexidade das essências pede autenticidade e quantos de nós possue coragem, dignidade e inteligência para ser autêntico? Pouquíssimos, a maioria prefere a comodidade bestial de uma existência plagiada.
Assim caminha a humanidade, rumo a fakelização.
Ser autêntico é crime, uma ofensa aos pobres de espírito e desprovidos de criatividade.
Temo pelo futuro das essências complexas. Vivemos a era da mediocridade, da falta de bom senso e carência de vontade. Não vejo sinais que apontem para o fim desta era.
Entretanto, há que perseverar, pois ainda existem alguns poucos exemplares de seres humanos detentores de essências apaixonadas e complexas e há também, alguns poucos que apreciam esses seres complexos. Talvez a salvação esteja na valente resistência desses pequenos grupos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Picasso, Galliano, da Geb e Madame de Borchgrave: quando arte e moda confluem para poéticas replay (Parte I)

Picasso pintou alguns arlequins durante seu percurso como pintor.
Onde nasce esta “queda” por arlequins? Acredito que tudo começou depois de seu envolvimento com o mundo do espetáculo (Ballet Russo, Diaghilev...). Desse “caldo teatral” surgiu o flerte com a commedia dell’arte, que acabou originando as centelhas inspiratórias que criaram os seus arlequins.

“Pablo vestido de Arlequim”
Pablo Picasso
1924
Óleo sobre tela
Dimensão: 130cm x 975cm
Acervo do Museu Picasso em Paris (França)


Imaginaria Picasso que, no futuro, seus arlequins inspirariam um desfile de alta-costura em Paris?
Em 2007, outro espanhol, Juan Carlos Antonio Galliano, mais popularmente conhecido como John Galliano, no 60º aniversário da criação da Maison Christian Dior apresentou um luxuoso desfile de vestidos inspirados em seus pintores preferidos e suas obras. Picasso foi um dos eleitos e seus arlequins foram as obras escolhidas por Galliano para inspirar um de seus modelos.


Modelo criado por John Galliano para desfile comemorativo da Maison Dior

No mesmo ano de 2007, da Geb, inspirada por Galliano e seu modelito Picasso-para-vestir, pinta um close-up do arlequim de Galliano.


Arlequim
Anthus da Geb
2007
Pastel sobre papel Kraft
Dimensões: 297cm x 420cm
Coleção Particular

Eis o ciclo sagrado: da arte para moda, da moda para arte.
A poética se repete, porém com novas roupagens dando passagem a novas releituras. Tais reflexões nos permitem parafrasear Lavoisier, afirmando que em arte ou em moda nada se cria tudo se transforma. A paráfrase é pretenciosa? Talvez, no entanto, abre-nos a cortina que separa conversas frugais sobre as Artes humanas das discussões espirituais sobre as contribuições sensoriais das Artes nas vidas humanas.
Descortinada a natureza íntima das sensações, fruto de estímulos artísticos, se torna óbvia a poesia existente na arte em papel de Madame Borchgrave.


Reprodução em papel de vestido de época
Isabelle de Borchgrave


Isabelle de Borchgrave, por meio do “trompe l’oeil”, trouxe para uma efêmera realidade celulósica a vestimenta da Infanta Margarida. Parte de “Las Meninas” de Velázquez deixa de ser imagem ilusória e ganha vida, corporificando uma poética em papel, uma poética repetida e ainda sim, transformada.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Klimtimizado à la Toulouse-Lautrec

Muito pensei sobre começar minha história nesse espaço virtual.
O que devo dizer? Como devo dizer? Será que tantas dúvidas realmente importam? Creio que não...
A verdade, é que ultimamente, não acho graça no mundo. Tudo anda em branco e preto, sem sal, sem açúcar. O mundo tem estado apático, assim o vejo, assim o sinto.
Eis que numa dessas noites de verão africano, estando eu em São Paulo, Klimt se apoderou de meus transpirados pensamentos.
Lembrei-me de suas ruivas, a “Senhora de chapéu e boá de plumas”.
Ela, com seus olhos semicerrados, carregados de nostalgia, desconfiança e cansaço traduzem todo meu enfado.
Nada de ouro, nada de prata, nada de ornamentos, nenhum exagero típico de Klimt, nada, nada, nada, absolutamente nada do Klimt vienense...do Klimt da Jugendstil.
O Klimt francês é o que traduzia meu momento, o Klimt expressivo, bem Toulouse-Lautrec. O decorativo não existe, apenas pinceladas grossas e visíveis ...e uma paleta sombria.
Apesar de tudo, esta tela me retirou da inércia em que me encontrava.
O cavaleiro dourado, ao fundo, me fez lembrar que a vida ainda é uma batalha e que melhores dias virão.
Devo sair a campo e batalhar por dias mais...dourados e menos...negros.
Imagem: Lady with Hat and Feather Boa
( Dame mit Hut und Federboa)
1909
Óleo sobre tela
69x55cm
Österreichische Museum für Angewandte Kunst
Viena (Aústria)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Enquanto Marie não vem...



Cadê Marie Théresè, minha amiga-escritora-blogueira? Querida, não permitirei que você transforme este blog no “Blog de meia dúzia de posts e só”! The show must go on, my Darling! E aqui vou eu (quebrando as regras entre Marie e Eu)!
Eis que embarcamos em 2009: E quem sabe onde vai dar este ano, ou no que vai dar? Atualmente, nem o comandante da nau dos loucos, Deus.
A única certeza é a numérica: 2+0+0+9 = 11 que, no frigir dos ovos, 1+1 = 2...2009 valerá por dois! Tudo dobrado. Será que veremos tudo dobrado sem ajuda de álcool? Na dúvida, pergunte ao oráculo: http://www.google.com/!
Ano Novo passou, que venha o Carnaval. Espero sinceramente, que algumas máscaras caiam antes de sua alegre chegada em fevereiro!
Querem uma imagem artisticamente carnavalesca? Lhes apresento “O Carnaval de Arlequim” , do españolito Joan Miró.


O Carnaval de Arlequim
1924-1925
Óleo sobre tela
66x93
Albright-Knox Arte Gallery, Buffalo (Estados Unidos)

O que vocês acham?
André Breton dizia que Miró era o mais surrealista de todos os surrealistas. Entretanto, nem tudo que leva a formação de uma pintura é surreal. Geralmente, as causas são bem reais!
A tela, “Carnaval de Arlequim”, foi inspirada nas alucinações causadas pela fome sentida por Miró. Fome de comida, meus caros e minhas caras! Existe algo mais degradante e humilhante, do que estar em Paris e não ter para comer nem as migalhas de um brioche que Maria Antonieta amassou? Que falta faz uma Gertrude Stein na vida dos bons e famintos artistas!
O próprio Miró relatou que quando voltava ao ateliê da rua Blomet à noite e deitava às vezes sem jantar, ele via coisas e as anotava no cadernos, via alucinações no teto.
É...a fome tem um efeito lisérgico impressionante. Se a moda pega, o tráfico cai em desgraça financeira! Ai, ai, é melhor eu deixar a sátira de lado antes que Miró decida assombrar-me durante o sono.
Esta tela encerra a fase das obras dominadas pela imaginação (será que encerra a fome somaliana em solo francês de Miró, também?).
Meninos e Meninas, não é uma obra fácil e exige de nós, bem nutridos observadores, meticulosa observação. A composição gira em torno de dois personagens centrais: um robô que toca viola e um arlequim com grandes bigodes e corpo de viola. A seu redor, uma multidão heterogênea de animais e objetos excêntricos se revela alheia à ação dos dois personagens. Uma cena de baile de carnaval.
Observem que sobre um plano quadriculado, o artista divide horizontalmente a tela ao meio, separando cromaticamente a parede do chão, e distribui as figuras de forma equilibrada. As paredes possuem manchas de umidade e pela janela se vêem o sol e a torre Eiffel, reflexos do exterior. Não é a pintura de um doido faminto, é a obra de um artista comprometido. Com a fome ele dormia, e dessa união noturna nasceu o carnaval.
Este era o mundo interior de Miró, um mundo musicalmente fantástico. Uma alucinação carnavalizada. A fome concedeu um banquete surreal aos nossos insaciáveis olhos.
Marie....cadê você? O próximo ato é seu!